SIGNOS DE LIBESKIND.
Uma análise crítica ao museu judaico de Berlim
AUTOR: Matheus Filipe De Holanda Paiva
Teoria de projeto II
ARQUITETURA E URBANISMO UEG
RESUMO
Ensaio realizado sobre o Museu Judaico de Berlim, projetado por Daniel Libeskind, consiste em uma análise crítica da obra a fim de entender de que maneira o arquiteto concebe o edifício e como foram construídos seus signos (pensamentos e significante) ativando a função simbólica e abstrata do midiático museu do arquiteto, criando assim uma conexão intensa e didática para com o objeto. Objetivando uma arquitetura baseada no significado à frente do funcionalismo.
PALAVRAS
CHAVES
Daniel
Libeskind, Museu Judaico, Crítica, Signos, Semiótica.
O texto visa explicar em poucos parágrafos
a mudança de paradigmas pós segunda guerra e seus modos de reprodução, mais
especificamente para a arquitetura e sua busca de forma, função e sensação
espacial.
Le Corbusier, Gropius e Mies nos alfabetizaram
com prédios de concreto, aço, laminares, retangulares, compartimentados e
brancos onde a palavra funcional era prioridade e o objetivo pleno,
porem esse racionalismo se mostram como os piores já construídos em relação à
conforto térmico, acústico, custo e assim por diante. Tanto que muitas das edificações
“funcionais” da década de 1920 dificilmente permanecem inalteradas.
Contudo, esses prédios são símbolos contrários
do que pregavam, pois também vem carregados de significado evocando ao moderno
internacional: Ousado, tecnológico e completamente avesso ao supérfluo. É por
isso que a devaneio funcionalista nunca saiu do imaginário de seus autores que
propunham à arquitetura como maquina isenta de significados. Pois os mesmos estão
carregados de representação e simbologia.
O presente ensaio discorre sobre a
leitura/projeto do Museu judaico de Berlim. Fundado no ano de 1933 e encerrado
em 1938 pelo regime Nazista.
Em
1989 o governo de Berlim realizou um concurso de arquitetura, pouco meses antes
da queda do muro, do qual Daniel Libeskind, ganhou e a obra foi concluída em
2001.
Um edifício institucional em busca de marcar
a nova etapa de reunificação alemã, pós-queda do Muro, de forma emblemática. O
arquiteto se apropria de atores que sobrevoam a história de Berlim, sua própria
história e mudanças na sociedade que acarretaram em mudanças na arquitetura.
Como a introdução da tecnologia, a necessidade de novas formas, perspectivas,
discursos, diagramas e leituras. Para fazer uma obra contrastante e carregada
de espaços didáticos sensoriais.
Vista do Museu Museu
Judeu e o Kollegienhaus
O Museu Judaico é dividido em dois
edifícios. Por um lado, há Kollegienhaus, um antigo tribunal, que abriga a
entrada do museu judaico parte da intervenção de Libesksind, exposições
temporárias, vestiários, lanchonetes e lojas para vendas de souvenirs.
O projeto vem em companhia de um texto “Between the lines” que é o título de uma das premissas da obra. Trata-se de duas linhas, uma reta e outra tortuosa que se entrecruzam, e que representariam de maneira particular a história do povo judeu. A reta está representada como um vazio, está fragmentada e denota descontinuidade e ausências do que seria o símbolo da vida acidentada, de perdas, do povo judeu. A outra linha, tortuosa se entrelaça com a reta, em alusão à história do povo judeu em Berlim. Duas retas cruzadas que contém uma história de presenças e de ausências.
Estudo volumétrico do Museu, com seus eixos principais.
A edificação é apresentada como um
signo e não possui um valor unitário como forma ou conteúdo, o museu pretende
que cada um, com as suas leituras individuais em contato com o espaço produza
as memórias e sensações imateriais ou não vivenciadas pelo usuário, baseando em
produzir o inconsciente. De uma maneira
literal o arquiteto coloca uma enorme pressão conceitual em diferentes layers
de leituras. Não só o edifício aborda a história, mas o arquiteto incorpora as
memorias através de seu programa o que talvez possa prejudicar o real objetivo
do museu que é abrigar exposições. Esses vazios são explicados pelo arquiteto
como um modelo didático de assimilação para a ausência de judeus em Berlim.
Para sintetizar esse conceito, “o signo é
um símbolo que comunica à mente algo do exterior. Aquilo em cujo lugar está
denominado é seu objeto; aquilo que o signo transmite seu significado, e a
ideia que ele provoca é seu interpretante”
Internamente existem cinco corredores lineares que se estendem verticalmente do subsolo até o andar mais alto o arquiteto nomeia esses corredores de Void e são os espaços vazios com paredes de concreto.
Vazios do museu.
Um
único vazio é visitável apresenta o trabalho do artista Kadishman que são dez
mil rostos feitos de ferro e espalhados pelo chão para que o visitante pise e
desperte mais sensações com o espaço e a história desejada.
Obra de Kasishman.
O edifício é dividido em três eixos, três
situações diferentes onde cada um representa a experiência judaica sendo:
continuidade, holocausto e o exilio. A torre do holocausto (morte) é um
espaço vazio de 24 metros de altura, não existe nenhum tipo de iluminação a não
ser a iluminação natural na lateral objetivando-se induzir a sensação poética
do holocausto.
Torre do holocausto.
O
eixo do exílio leva até uma parte externa onde se encontra o “Jardim do
Exilio”. O caminho até o jardim possui paredes inclinadas, piso irregular até
chegar ao jardim que é composto por 49 blocos de concreto ocos com vegetação no
topo, inclinado 12 º para dificultar a caminhada e remeter à instabilidade e
desorientação dos judeus expulsos da Alemanha. A vegetação no topo simboliza a
esperança
Jardim do exilio.
E
o eixo da continuidade o mais longo dos eixos possui uma escada com
várias vigas de concreto cruzando que leva à exposição nos andares superiores
este eixo simboliza a continuação da história, o caminho da conexão que supera
os outros eixos.
Eixo da continuidade.
O
projeto apresenta a mudança da relação com edifício, onde o sujeito compreende
que não consegue mais conceituar a experiencia no espaço. com uma ideia de
antítese ao produzido até então pela arquitetura e visão tradicional. Apresentando a dobra como possibilidade de
nova relação espacial.
Escada estreita eixo continuidade.
Materializando o conceito para a
edificação de Libeskind objetiva-se simbolizar a realidade da história dos
judeus durante a segunda guerra então utilizando a gestald o arquiteto sempre
causa estranhamento, desorientação e contraposição ao já existente re
significando os espaços e as interações humanas nos mesmos. Eisenman (1992)
defende que é necessário possuir uma sensibilidade tanto para se projetar, como
para se enxergar a nova arquitetura. O termo pós-funcionalismo trata, em
partes, dessa nova visão, interpretação e importância da arquitetura, onde a
sensibilidade seja repensada e valorizada.
A
obra do museu judaico de Berlim retrata um novo recurso não oposto, mas
diferente do que já havia se concebido até então e tem como princípios básicos
revelar de maneira impactante e diferente as ideias e signos da história, visão
e sensação espacial. Após inaugurado o museu já foi procurado por mais de 500
mil pessoas, muitos foram antes mesmo de ter sido disponibilizado o acervo.
Conclusão
Essa relação da arquitetura com os
signos nos mostra que os significados tem consequências para as formas
arquitetônicas e que toda tentativa de projetar edifícios que produzam efeitos
nos usuários possui relação com a semiótica. Portanto o arquiteto precisa
conhecer a teoria. Não de maneira tão conceitual, dentro de autores complicados
como Peirce, mas sim entendê-la como prática e com uma possível aplicação no
desenvolvimento de projeto.
De qualquer forma Libeskind compõe os elementos de maneira coerente e bem fundamentada para induzir as emoções desejadas. Ele entende que arquitetura deve ser criada e escrita dentro de um sistema de signos que na verdade não podem ser lidos pois não possuem significados palpáveis compreendendo assim a mecânica da visão.
O
projeto de Libeskind pode ser enxergado como a concretização de um mundo
imaginário, uma concretização textual que colabora para dispersar os sistemas
tradicionais de leitura, e da obra de arquitetura como tal. Um complexo
processo de projeto chama simplesmente “significar”.
Referências
EISENMAN, Peter. Visões
que se desdobram. Domus 1992
PALLASMAA,
Juhani.
Olhos da pele.
Arquitetura dos sentidos, Finlândia 2011
MONTANER,
Joseph. Arquitetura e crítica, Barcelona
1999
PASSARO, Andres. Two-way street: berliner readings of john hejduk and daniel libeskind, Brasil 2015
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