EDIFÍCIO SILODAM: A GENERALIZAÇÃO DO HABITAR

AUTORES

Isabella Ribeiro de Souza (ARQ URB/ UEG) - E-mail: isarsouz@gmail.com

Pedro de Oliveira (ARQ URB/ UEG) - E-mail: pedroblizz@outlook.com

RESUMO

O presente trabalho chamado Edifício Silodam: a generalização do habitar, faz uma análise do projeto do escritório holandês MVRDV, no sentido da inovação e concordância do processo projetual e seu resultado final. Para isso, inicialmente o projeto é contextualizado e o conceito utilizado pelo escritório para a elaboração do projeto é apresentado. Tendo como  principais referências a tese de mestrado da Prof. Ms. Lívia Paula Zanelli de Morais (2015) e o ensaio de autoria de Leticia Teixeira Mendes e Leandro Medrano (2013), onde estes buscam alguns critérios da Métrica de Inovação desenvolvida por Achten (2009) para análise das informações e fases do projeto. Logo após, faz-se uma diretriz ao projeto de Le Corbusier e as semelhanças do edifício Silodam com este, além disso, outros aspectos de contradição entre concepção projetual e resultado final são observados. O estudo tem como objetivo o questionamento da real inovação dos projetos contemporâneos.

PALAVRAS-CHAVE

Edifício Silodam, Processo Projetual, Arquitetura Contemporânea, Inovação

INTRODUÇÃO

    O Edifício Silodam foi projetado pelo escritório holandês MVRDV, composto pelos arquitetos Jacob van Rijs, Nathalie de Vries e Winy Maas. Está localizado na parte ocidental do porto de Amsterdã, capital da Holanda, onde esta extensa operação urbana ocorreu em uma antiga represa e edifício de silo, no Canal IJ (MVRDV, 2003), como mostra a Figura 1.

Figura 1 - Região portuária do Edifício Silodam.

Fonte: mvrdv.nl.

Durante muito tempo o misto de funções foi proibido na Holanda por questões sanitárias, o que resultou em áreas de trabalho e habitação monótonas e monoculturais. Entretanto, observou-se a ocupação da indústria pesada pelos locais de trabalho e a perspectiva diante desses edifícios se transformou (MORAIS, 2015).  O projeto foi inserido em um local de edifícios predominantemente comerciais e o último grande vazio de Amsterdã.

A proposta do projeto tem como base o adensamento da cidade, com a finalidade de saciar as demandas por habitação, além de gerar economia em uma área considerada vulnerável (MORAIS, 2015). Dessa forma, a obra possui uso misto, alternando entre ambientes comerciais e habitacionais, onde as cores utilizadas ressaltam essa alternância. (Figura 2).

Figura 2 - Perspectiva do edifício.
Fonte: mvrdv.nl.

 Nome do projeto: Edifício Silodam.

 Localização: Amsterdã, Holanda.

 Programa: Misto.
    Área: 19.500 m².

 Ano: 2003.

Orçamento: 16.800.000 euros.

De acordo com o escritório MVRDV (2003), o Silodam é construído fundamentalmente a partir da junção de quatro torres, conectadas através de diferentes plantas, onde os níveis são conectados de formas diferentes, e por ser uma área portuária o principal material utilizado foi o contêiner (Figura 3).

Figura 3 - Perspectiva exibindo o material do edifício.

Fonte: mvrdv.nl.

O projeto teve um custo elevado devido à sua localização e ao misto de programas, que atualmente consiste em: 157 (cento e cinquenta e sete) apartamentos para venda; 15 (quinze) apartamentos para locação; 600 m² (seiscentos metros quadrados) de área comercial; marina para pequenos barcos e dois estacionamentos com 109 (cento e nove) vagas.

Tendo como objetivo atribuir a solução da habitação adensada aos espaços públicos, este culmina em uma grande escada, a marina, o deck, as galerias envidraçadas dos últimos andares e a circulação horizontal demarcada por cores. De acordo com Morais (2015), muitos espaços que foram pensados não se realizaram por inviabilidade política e econômica.

De acordo com Nathalie de Vries (2015), uma das arquitetas do grupo MVRDV, a população holandesa é anti-urbana em sua essência, e o papel da arquitetura é tornar a habitação sob densas circunstâncias não só possíveis, mas ideais. Posto isso, o edifício finda na constituição por apartamentos, escritórios, área comercial e espaços coletivos.

Conforme L.T. Mendes & L.T. Medrano (2013), o projeto do Silodam representa uma síntese do projeto urbano de uma maneira geral, onde o propósito era a reurbanização da região, proporcionando a diversidade econômica, social e cultural através de dimensões críticas, ambição social específica e um complexo programa.

O projeto do Silodam, mostrou-se inovador em alguns aspectos que dizem respeito ao seu processo projetual, como mostra o estudo desenvolvido por Achten, temos como referência alguns aspectos do seu método, chamado de Métrica da Inovação (L.T. MENDES & L.T. MEDRANO, 2013). O método consiste na análise de informações referentes ao partido, aspecto e à fase do processo de projeto do edifício.

O processo de projeto do escritório MVRDV, conforme Mass et al. (2005, 2006), foi considerado inovador, a partir da interpretação literal que o grupo faz do entorno, além da mescla de materiais, refletido na flexibilidade, multifuncionalidade e complexidade no partido do projeto.

Ao levar em consideração a negociação que envolve todos os possíveis usuários, este também é autêntico. A estratégia traz o posicionamento das partes para a tomada de decisões no projeto, onde discutia-se posições das unidades, quantidade e qualidade. Uma das ferramentas utilizadas para o auxílio nas negociações, foram os gráficos e curvas de Gauss (Figura 4).

Figura 4 - Divisão descrita por uma curva de Gauss.

Fonte: Maas et al. (2006, p.540).

Além da análise destes aspectos proposta por Achten (2009), pode-se facilmente traçar um paralelo projetual do Silodam (2003) com a Unité d'Habitation de Le Corbusier (1952), como mostra a Figura 5, sendo evidente a intenção destes projetos de trazer características de uma cidade para dentro do edifício. No Silodam o espaço de circulação assume papel de área de convivência e no conjunto deMarseille os corredores são tratados como ruas.

Figura 5 -  Unité d'Habitation de Le Corbusier (1952).

Fonte: Archdaily.

Alguns outros aspectos podem ser observados, como por exemplo, o afastamento da pesquisa teórica durante o amadurecimento das unidades habitacionais no edifício Silodam  (L.T. MENDES & L.T. MEDRANO, 2013). A partir disso, questiona-se a existência de possíveis barreiras culturais, econômicas, políticas e técnicas, o que não cede espaço para a participação de grandes grupos que se inserem no contexto urbano de Amsterdã. A disposição do programa e os espaços coletivos foram abordados de forma constante, enquanto a parte interna das unidades habitacionais não foi debatido e se desenvolveu de forma sintetizada. A partir dessas análises, percebe-se uma contradição do processo projetual em relação ao interior do Silodam.

As tipologias das habitações, não participaram do processo de análise e o organização de dados, então nessa parte do projeto, a mediação do interesse cliente/usuário não ocorre mais. Uma ação questionável ao ver a natureza do projeto, pois com as 22 (vinte e duas) tipologias de unidades presentes no edifício, é possível afirmar que o interesse de todas elas é criar espaços desejosos e consequentemente lucrativos (Figura 6).

Figura 6 - Plantas das unidades habitacionais.

Silodam Case Study | Natalie Goklevent | ArchinectFonte: Archinet.

Fonte: (L.T. MENDES & L.T. MEDRANO, 2013)

É notório que o interesse de um projeto dessa tipologia tem fins econômicos, porém a postura geradora se baseia na produção de espaços variados que apelam ao agrado de uma grande diversidade de usuários e tornar a habitação vertical ideal. Entretanto, o Silodam acabou por ser um grande espaço que aloca uma variedades de espaços pensados para serem vendidos somente a uma fatia da população, visto que o preço do aluguel da menor e mais barata unidade é destinada a pessoas com um determinado poder aquisitivo.

Apesar disso, reconhece-se a importância da diversidade nos projetos do MVRDV (MORAIS, 2015). O Silodam se apresenta como um grande edifício que visa transformar o cenário urbano e a própria concepção de habitar do imaginário da cidade holandesa. O resultado, porém, reflete os limites impostos pelo cliente ao grupo ao ver somente a fachada, que entrega uma ideia do uso misto, já o seu interior abandona a solução ramificada da circulação. Esta consiste em salas  comerciais feitas e pensadas para serem apelativas para um mercado tradicional local, ou seja, temos um edifício com uma circulação inovadora e uma habitação tradicional.


REFERÊNCIAS


GOKLEVENT, Natalia. Silodam Case Study. Archinect. Disponível em: <https://archinect.com/natalie/project/silodam-case-study>. Acessado em 02 de out. de 2020.


MAAS, W.; VAN RIJS, J.; KOEK, R. (Ed.). KM3 excursions on capacities. Barcelona, 2005.


MORAIS, Paula. INVESTIGAÇÃO COMO PRÁTICA: MVRDV E AS EXPERIÊNCIAS COM O HABITAR. Fev de 2015. Acessado em: 26 de out de 2020.


MENDES, Letícia Teixeira; MEDRANO, Leandro. MEDIÇÃO DO GRAU DE INOVAÇÃO EM PROJETOS CONTEMPORÂNEOS. Jul de 2013. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/327276844_Medicao_do_grau_de_inovacao_em_projetos_contemporaneos>. Acessado em: 02 de out. de 2020.


MONTANER, Josep Maria. Arquitetura e Crítica. Editorial Gustavo Gili, S.L., 2007. 160f. 


SILODAM. MVRDV.NL, 2017. Disponível em: <https://www.mvrdv.nl/projects/163/silodam>. Acessado em: 02 de out. de 2020.


SEGRE, Roberto. Atlas das arquiteturas do século XXI: Opulência, crise e esperança. 2013. Disponível em: <https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/12.140/4842>. Acessado em: 02 de out. de 2020.

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