O EDIFÍCIO NARCÍSICO DE BILBAO 

AUTORAS: 

TAILINNY VERÔNICA FERNANDES (ArqUrb/UEG) - e-mail: linny_ynniliat@hotmail.com
VICTÓRIA LARISSA GUIMARÃES (ArqUrb/UEG) - e-mail: guimaraesvic@outlook.com

RESUMO

        O Museu Guggenheim de Bilbao, projetado pelo arquiteto Frank Gehry, passou por uma transformação em sua estrutura urbana e por uma nova construção imagética da cidade no mundo contemporâneo. Além disso, o modelo adotado nessa cidade provocou o chamado “efeito Bilbao”, sendo o edifício, protagonista da capital basca pela sua extravagância formal e sua materialidade inovadora. É um museu totalmente narcísico que tem sua imagem refletida nas águas voltando totalmente para si, o edifício se fecha para a cidade. Apesar da sua importância e popularidade e para além da sua imagem sedutora, este trabalho busca explorar o Museu Guggenheim de Bilbao e suas interfaces na cidade de Bilbao, analisando as relações do edifício entre ele mesmo, seu entorno e o rio Nervion constatando experiências arquitetônicas relevantes. Diante de tal fato, entender o museu narcísico, isto é, o edifício com seu ego superior a qualquer relação com a cidade é o objetivo deste trabalho.

Palavras chave: Guggenheim de Bilbao, Museu, Frank Ghery, Estrutura Icônica, Edifício Narcísico.

INTRODUÇÃO

      Clássico da arquitetura, situado em Bilbao, na Espanha, o edifício Narcísico de Bilbao é um museu marcado por uma estrutura icônica, conhecida pela sua complexidade e forma única, criado em 1997. Uma construção transformadora na cidade Basca, sua monumentalidade e materialidade se destacam no entorno ignorando quaisquer relações, fazendo com que o edifício se feche para a cidade, de frente para a montanha e com a face virada para o rio. Os museus se tornaram importantes na dinâmica dos grandes espaços urbanos, seja na transformação de seu conceito, em sua monumentalidade arquitetônica ou como espaço de exibição.  
 

O Edifício Narcísico de Bilbao

      O Museu Guggenheim é filho de uma economia em decadência, antes baseada na atividade portuária que trafegava como produto de exploração das minas de ferro, e da sede capitalista que se passava o Estado. 

        De fato, os museus pós-modernos, chamados também de novo museus, se diferenciam incialmente por seduzir os visitantes, sejam estes locais ou passageiros, para conhecer a sua nova e espetacular arquitetura. Estes museus constituíram parcerias comerciais e acionaram ferramentas de marketing para promover grandes exposições e atrair muitos visitantes, pois, durante muito tempo, os museus foram considerados como lugares de elite e distantes da população (SILVA, 2016).   

       Desse modo, surgiu uma nova tendência, a dos museus em escalas monumentais como podemos observar na figura 1, ocasião em que a arquitetura iniciou uma nova tendência, um processo de incorporação de aspectos morfológicos e formais que se aproximam com a arte contemporânea.  

Figura 1: Entorno do museu Guggenheim de Bilbao. 
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/786175/classicosda-arquitetura-museu-guggenheim-de-bilbao-gehry-partners 

      Eventualmente a área alvo do maior número de intervenções na cidade de Bilbao é – o bairro Abandoibarra, que sofreu modificações estratégicas que fazem parte da empreitada de reabilitação da área portuária e industrial da cidade coordenada pela Bilbao Ría 2000, uma parceria interinstitucional de capital público formada por vários órgãos dentre os quais se destacam o governo central, a autoridade portuária e o governo basco (MELO, 2008). 

         Ademais, a região está situada na antiga área de estaleiros à beira do Rio Nervión, com seu projeto urbano desenhado por César Pelli iniciado em 1989 e abrange um conjunto de edifícios para escritórios, um centro comercial, habitações e a ampliação da Universidade de Deusto, área caracterizada como polo cultural que ainda conta com o Palácio de congressos e da música projeto dos arquitetos Federico Soriano e Dolores Palácios. 

        Uma vez que esses projetos baseados no importante papel reservado para a capacidade expressiva e simbólica das novas arquiteturas, ao mesmo tempo que buscam inovar e se destacar, são obrigadas a dar lugar ao protagonismo do Museu Guggenheim com certa saudação ao mesmo. Dentre os edifícios de grife, o museu é de fato um edifício âncora a todas as mudanças que ocorreram na cidade de Bilbao. 

        Semelhante ao conto, Narciso abrilhantava os olhos de várias ninfas, mas em contrapartida sempre preferiu ficar sozinho e rejeitou o amor de todas elas. O museu narcísico na cidade Basca é o parâmetro de sucesso a ser seguido por outras arquiteturas, a cidade cresce graças ao edifício, mas nada recíproco, não faz questão de colaborar e apresentar o sucesso a qualquer uma delas, ele rejeita até mesmo o que o ressalta se elevando como ponto focal do sucesso de Bilbao. 

      Certamente podemos denominar o museu Guggenheim em Bilbao como um edifício “Egóico", onde tudo que se faz o coloca ainda mais como ator principal na cena da cidade. 

        Desde a gênese do projeto como estratégia capitalista para restauração econômica da cidade Basca, ele se baseou no poder da iniciativa privada e pública a fim de elevá-lo à maior posição e autoridade, um projeto ambicioso e competitivo a nível mundial com o desejo de ser melhor e aparecer como o mais influente, materialmente, volumetricamente e tecnologicamente inovador. Algo semelhante ao que Márcia Mello Aborda no Artigo As Arquiteturas Monumentais e a Imagem da Cidade Turística (2019).
    
        O referido museu se coloca muito mais no lugar por ele mesmo, e tudo que vem após o seu projeto está ali para ressaltar e compor o espaço onde se insere o edifício, não considera precedentes mas quer que o considerem como elemento total de qualquer decisão, atitude própria do seu egoísmo. 

        Por outro lado, a atmosfera construída pela então intitulada arquitetura desconstrutivista de Frank Gehry pelo espetáculo global causado pelo efeito Guggenheim em Bilbao é o gatilho para uma realidade criada, midiática e construída com o maior fim econômico baseada num discurso independente.
     
Sobre a arquitetura desconstrutivista, Wigley (apud FRAMPTON, 1997, p. 380) descreve-a como a seguir: 

A forma se deforma a si mesma. Contudo, essa deformação não destrói a forma. De uma maneira estranha, a forma parece intacta. Esta é uma arquitetura de destruição, deslocamento, desvio e deformação, mais do que de demolição, desmantelamento, decadência, decomposição e desintegração. Ela desloca a estrutura, em vez de destruí-la. Em última instância, o que há de tão perturbador nessas circunstâncias é exatamente o fato de que a forma não apenas sobrevive à sua tortura, mas dela ressurge ainda mais forte. Talvez a forma seja, na verdade, produzida por ela. Não fica claro o que veio primeiro, se a forma ou a deformação […]. 


        A priori, a arquitetura do museu Guggenheim de Bilbao transformou no ideal de projetos dos arquitetos por seus resultados com sucesso imediato, o que pode ser visto em todo caminho turístico da região e no mundo. 

       Arquiteturas de embalagem ou pele, que tem como foco a atenção máxima do observador ao visualizar a sua superfície/ forma, estrelando em um espaço que as volumetrias competem para qual irá se destacar mais. 

        Diante disso, a espetacularização da arquitetura talvez seja o termo mais bem empregado a essa constatação, onde a função primordial da arquitetura é deixada de lado para se obter um objeto que seja visualmente impactante (MELLO, 2019). 

        Visto que a aparência de Narciso era o que deslumbrava e chamava atenção, como no Guggenheim é se apaixonar apenas pela casca, sem ao menos se dar o trabalho de levar em consideração o conteúdo, a formalidade de um corpo que se destorce e contorce como em uma bela dança expressiva ressalva o seu desenho como pode ser observado abaixo, na figura 2: 

Figura 2: Arquitetura como embalagem/casa metálica 


Fonte: https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.074/339 

      Da mesma forma, pode-se comparar ao intuito da área industrializada de lazer de Bilbao à “Disneylândia”, pois, o museu e todo o seu entorno criado se coloca muito mais perto do mercado de massa, que do mercado de arte, ao propor uma arquitetura tão radical quando comparada com a história e linguagem da cidade. 

         Outro questionamento a ser levantado é justamente se o museu Guggenheim de Bilbao levou em consideração a história do lugar, pois a partir de sua arquitetura a cidade veio a ser modificada e a construir um vocabulário histórico de fato relevante no cenário mundial, haja vista que o que quer Frank Gehry desenhasse, tornaria a base sobre a qual a cidade criaria sua narrativa. 

         Ainda assim, o espaço urbano é utilizado como um dos elementos que garantem que a arquitetura de grife seja monumental e, consequentemente, contribui para o aspecto visual de obra de arte, isolada para ser contemplada. Certamente, tudo está disposto e pensado a favor do ator principal, onde o entorno é privilegiado e inserido como insignificante a obra. 

      De tal forma, o observador estando sobre a ponte é privilegiado por uma vista panorâmica do museu, e quando totalmente percorrida, possibilita grande contemplação de toda a volumetria e mais uma vez tudo está a favor desse ator, visto que a ponte integrada passa a ser um mirante para os curiosos da arquitetura. 

    Analisando o lugar, o museu Guggenheim de Bilbao está de frente a uma montanha aqui ironicamente identificada como a única característica não originada com o “efeito Bilbao”. Ademais, o edifício se encaixa na “Puente de La Salve”, um dos principais acessos à região confirmando seu protagonismo frente a cidade, a escadaria que vai da ponte ao museu também está ali para anunciar a presença dele como pode ser observado na figura 3, a seguir: 

Figura 3: Puente de La Salve e Escadaria de Acesso. 
Fonte: http://www.cosmichouse.tziki.net/roadtrip-norte-de-espanha-pais-basco-13/ http://www.cosmichouse.tziki.net/roadtrip-norte-de-espanha-pais-basco-13/ 

        Existem outras duas importantes avenidas que dão acesso principal ao museu, o que mostra que quase toda a cidade é induzida a um ponto focal provocativo e curioso: a “flor metálica” do Guggenheim. 

        Outro elemento importante, que é utilizado para ressaltar o museu é o Rio Nérvion, que adicionado a um espelho d’água de 30cm com fundo pintado em verde que circunda todo o edifício faz refletir a arquitetura e demonstra como se essa estivesse emergindo do rio (BONATES, 2009), em paralelo ao mito, em uma fonte clara, de águas como prata local onde o edifício narcisico debruça para banhar-se e vê surpreso, uma bela figura que olha dentro da fonte: o seu próprio reflexo conforme demonstrado na figura 4. 

     A água, assim como, um espelho faz com que o edifício preso ao seu ego possa ser visto e se contemple a si próprio. Também, há uma ponte que proporciona as pessoas a percepção e a contemplação dessa relação do museu narcísico com a água, apreciando o reflexo único ao quadro que se monta, como visto na figura 5. 

Figura 4: Reflexo do museu Guggenheim no Rio Nérvion / Figuras 5: A ponte no Espelho d’água e sua relação com o Rio Nérvion. 


Fonte: https://revistanews.com.br/2018/05/28/o-efeito-bilbao-do-museu-guggenheim/ / Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/786175/classicosda-arquitetura-museu-guggenheim-de-bilbao-gehry-partners 


        Igualmente, na mitologia grega Narciso que além de ter uma beleza estonteante, a qual despertava a atenção de muitas pessoas (homens e mulheres), era arrogante e orgulhoso. E, ao invés de se apaixonar por outras pessoas que o admiravam, Narciso se apaixonou por sua própria imagem, ao vê-la refletida num lago, diante disso, ele vive uma incessante batalha entre o seu sonho ideal e a realidade que o frustra. 

        O Guggenheim em Bilbao deslumbrado, existindo quase apenas para saciar a sede de beber sob a sua própria maravilha, influenciando e convidando os observadores a também reverenciá-lo, desperta a atenção de muitas pessoas, que se impressionam com a sua forma e materialidade que compõem um edifício único e totalmente diferente de qualquer outra arquitetura, uma obra egóica que faz com que tudo ao seu redor esteja diante de si, para evidenciar e fazer com que seja e esteja sempre bem visto, chamando maior atenção do observador. 

      Assim como, no conto de narciso o museu não está ali para se apaixonar e dar lugar a outras volumetrias adicionais, pelo contrário o edifício se debruça ao seu próprio reflexo, e se fascina com a sua beleza. Portanto, ao contrário do conto, não apresenta qualquer fim trágico, mas sim grande revitalização urbana e econômica na cidade. 

        Pode-se afirmar que o Guggenheim de Bilbao é Narcisico, onde a casca se torna o elemento mais importante da obra se virando unicamente para a água olhando para fora e para si mesmo, estrelando perfeitamente como protagonista necessita de atenção no desenrolar de toda a cena que é Bilbao. 

       Desde o início da construção do museu, a concepção formal foi bastante estudada, os elementos da casca foram amassados, cortados cuidadosamente e lidos por softwares que deram origem a obra, colocando em xeque o seu egocentrismo, sem precisar justificar a forma pelo lugar, clima, ou arquitetura local, o edifício se consolidou como sua própria justificativa. 

      A arquitetura narcísica e egóica de Frank Gehry a Bilbao é ainda resultado de várias outras problemáticas sociais que passam a cidade portuária. Com a construção predominante de equipamentos de consumo e turismo para os mais abastados, buscando um reconhecimento internacional e a melhor inserção da cidade no mercado global, uma economia mais moderna, centrada no setor de serviços, e a população de maior poder aquisitivo. 

     De fato, o museu Guggenheim de Bilbao, marcou a produção arquitetônica do espetáculo, juntamente com o apelo econômico e a inserção de atividades geradoras de lucro, pelo seu caráter monumental, acentuando a função cenográfica das construções no contexto urbano como um chamariz turístico. 

       O brilho exercido pelas placas de titânio, fazem com que a luz natural reflita e faça do Guggenheim o próprio sol na paisagem, estando ali para ser estrela. Fato realçado pelo entorno árido do museu e o fetiche de sua imagem amplamente difundida pela mídia, inserindo o prédio na lógica da sociedade do espetáculo, um edifício totalmente narciso que vê sua imagem refletida nas águas voltando totalmente para si com seu ego maior que a importância do seu entorno.  

       Como marca dessa produção arquitetônica, o espetáculo que gerou o conceito “efeito Bilbao”, se caracterizou pelo não papel do museu em cumprir suas funções. Com sua forma monumental e com o excesso de elementos a sua geometria foi jamais vista, resultando em objetos que têm pouca semelhança com os demais edifícios museus e pouca relação com as atividades neles realizadas. Essa produção se apoiou em bases de que a criatividade em arquitetura, é abrir mão de entender as demandas reais e se tornar algo relacionado ao surpreendente.  

        Está claro que esse fenômeno é um reflexo do momento cultural em que vivemos, dominado pelos valores da economia de mercado e pelos princípios da propaganda e do marketing, o que faz com que a arquitetura tenha passado a se preocupar mais em causar impacto visual do que realmente servir à sociedade.  

     Porém, é importante ressaltar que ao analisarmos o museu relativamente ao seu entorno, a impressão que fica é que ele se impõe na cidade como um desenho pronto, como exposto na figura 6: 

Figura 6: Relação do museu Guggenheim com seu entorno 
Fonte:  https://www.vivadecora.com.br/pro/arquitetura/museu-guggenheim-bilbao/ https://www.vivadecora.com.br/pro/arquitetura/museu-guggenheim-bilbao/ 

        É possível afirmar que nenhum outro museu contemporâneo se notabiliza tanto pela impressionante atenção recebida da mídia como o Museu Guggenheim de Bilbao. Foi exaltado diversas vezes como uma grande obra arquitetônica do fim do século XX, precursora de um novo paradigma de processo de projeto e de construção, bem como de arquitetura de museus, bastante criticada por sua extravagância formal. 

        A imagem do Guggenheim de Bilbao, assim como, no mito de Narciso com sua formosura e beleza são inalcançáveis e todos que o veem se encantam e se apaixonam por sua casca brilhante, ficando condenados ao desejo de o terem e de o olharem cada vez mais. O edifício como protagonista não se entrega ao olhar do outro, não cria relações com a cidade, e passa sua efêmera existência voltado para si mesmo.  

          Com isso, uma das principais características dos museus do século XXI é a excessiva valorização da sua arquitetura, que assume papel de promoção institucional e apelo turístico.

        Os novos museus estão se transformando em “museus espetáculo”, capazes de atrair multidões e, muitas vezes, sobrepor-se aos conteúdos expostos, como é o caso do Guggenheim de Bilbao, onde chama atenção não pelo seu programa/ uso, mas por conta da sua aparência, fazendo com que muitas pessoas não conheçam de fato o museu.  

        A adequação do museu à tendência do campo da arte e da cultura baseou-se na ideia de que essa prática reduziria o visitante a apenas consumir experiências estéticas. Pois, tornam-se comuns práticas que priorizam os aspectos físicos e arquitetônicos das instituições, invertendo a ordem inicial da criação de museus, onde se pensava nos espaços expositivos como prioridade aos visitantes.  

         Outro fator que nos instiga ao analisar o museu, é o fato de ser bastante tecnológico comparado a seu entorno. Suas formas, sua casca metálica o fez se impor diante da cidade, todavia, internamente é comum com um programa igual aos demais museus existentes.

       Frank Gehry inovou fazendo um museu vanguardista por fora, mas não nas funções básicas do museu que é conservar e expor as obras de arte. Com isso, sua estrutura externa chama mais atenção do que as próprias obras, atraindo o público não pelo fator cultural de museu, mas pelo apelo estético que possui. 

       É evidente baseado na análise do museu narcísico de Bilbao, a sua preocupação estética e formal deixando de lado sua funcionalidade. Visto que, suas galerias parecem pequenas demais, comparado a monumentalidade externa do edifício.

       O museu possui 19 galerias, porém onde se situam as exposições temporárias são salas que não suportam grandes exposições, com espaços para abrigar apenas coleções de pequeno porte como fotografias e gravuras. Assim, logo após a inauguração da obra que, independentemente das obras de arte a serem expostas em seu interior, o edifício já seria, por si só, uma atração turística. 

        Contudo, observa-se que essas obras icônicas oriundas do efeito Bilbao, executadas para atender a população, conectando-a à cidade, tornaram se apenas produtos para formação de um cenário turístico.   
  
        Ratificando as constatações de Otília Arantes (2000) – A gentrificação é uma dessas questões que devem ser abordadas, com toda mudança no organismo da cidade na revitalização da vida urbana e prejuízo da vida pública a camada socialmente menos favorecida veio a obter dificuldades.  
    
      No bairro Abandoibarra, onde o museu está localizado, raramente se encontram populares que residem na cidade brincando entre as áreas verdes de sua praça, pois frequentam as áreas públicas de seus bairros. O entrono do Museu é uma área muito segregada, seus frequentadores são turistas ou moradores de maior renda da vizinhança, a utilizarem a margem do rio para a prática de esportes. Até os edifícios residenciais recentemente construídos ou ainda em construção são destinados a uma população de nível de renda mais elevado, em virtude da valorização da área.  

      Em suma, as áreas que compõem o percurso cultural de Bilbao receberam de fato alto investimento, enquanto áreas destinadas exclusivamente a população local não tiveram essa devida atenção, principalmente os espaços públicos que são de fato experimentados constantemente pela população. 
    
         É nítido o revolucionário impulso econômico e as melhorias que todas as estratégias trouxeram a cidade, assim como a importância desse edifício e dessa nossa linguagem a todo o cenário da arquitetura contemporânea, mas vale ressaltar que ao contrário do que majoritariamente é encontrado o edifício também apresenta pontos a serem melhor analisados.
  
      Portando, provoca-se o desejo de onipotência e de afirmação do ideal do ego o Museu em detrimento da realidade, com suas componentes negativas do efeito Bilbao, tornando o encontro com a realidade não turística cada vez mais penosa. 
    
          Esse exacerbado encantamento por si mesmo é um tema que foi vislumbrado na leitura do Mito de Narciso, inclusive por seus signos que apontam para interessantes significados. O museu Narcísico de Bilbao contempla sua face através do espelho da água e do rio Nervion, deste modo, o edifício assimila as facetas de sua imagem através da sua materialidade e caracteriza esse efeito da revelação ao se ver e perceber-se tão belo.  

          Em face ao exposto, verifica-se que mesmo após vinte anos, o Museu narcísico continua a desafiar suposições sobre as conexões entre arte e arquitetura e continua a ser uma estrutura icônica, referência, conhecida pela sua complexidade e forma única, revolucionária, mas nem tanto completa.  


REFERÊNCIAS:

BONATES, Mariana Fialho. El Guggenheim u Mucho más, Arquitetura de grife em Bilbao. Disponível em: < http://www.revistas.usp.br/posfau/article/view/43640>. Acesso em 23 de setembro de 2020.   

FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1997.  

LUPO, Bianca. Museus como fenômenos de massas: arte, arquitetura e cidade. Disponível em: < https://www.iau.usp.br/shcu2016/anais/wp-content/uploads/pdfs/62.pdf >, acesso em 22 de setembro de 2020.  

MELLO, Márcia Maria Couto. As Arquiteturas Monumentais e a Imagem da cidade Turística, 2019.PDF.acesso em 24 de setembro de 2020. 

NOGUEIRA, Guilherme. As funções dos museus contemporâneos. Disponível em: < https://www2.ufjf.br/ambienteconstruido//files/2018/06/Disserta%c3%a7%c3%a3o_Guilherme_Ragone.pdf >, acesso em 24 de setembro de 2020.  

SILVA, Isaias Ribeiro. Arquitetura de Museu - Parque: Os pavilhões expositivos do museu Inhotim, 2016.PDF. Acesso em 23 de setembro de 2020. 

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